Ready-Made ou a poesia da vida…


Não entrei na faculdade de Letras por causa da Literatura, embora eu tivesse criado o hábito de fazer minhas refeições lendo tudo ou qualquer coisa – jornal, rótulo de produtos, panfletos promocionais, sempre observando cuidadosamente as entrelinhas… Como geralmente eu comia sozinha e, mesmo acompanhada, sempre fui muito autista nas minhas refeições.

 O fato é que sempre gostei de Inglês, aprendi com a facilidade que todos nós temos quando  somos novinhos, com o cérebro praticamente novo. A faculdade de Letras fodeu com desestimulou o meu Inglês, pois não tive desafio algum e vivi quatro anos vendo meus coleguinhas de turma colando e passando e agora dando aulas (sic!) de Inglês. Mesmo assim prestei concursos públicos para dar aulas de Inglês. Passei em três deles, e hoje a mim está incumbida a função de alfabetizar também em Inglês, coisa que também não aprendi na faculdade. 

A Literatura sim, essa me conquistou nestes áureos tempos. Sempre achei lindas as professoras de literatura. Como se vestiam bem e que belos colares e saltos altos desfilavam nos corredores da remota instituição de ensino! Quanta honra poder falar com propriedade de Shakespeare, do Macunaíma, de  João Cabral, da Polaquinha, do Pessoa, de Dorian Gray, Kafka e suas metamorfoses, deste outro mundo constituído pela linguagem das palavras enfeitadas.

Meu TCC foi sobre poesia. Sobre o regate dela em sala de aula. Lembro até hoje dos meus colegas se divertindo comigo sobre a minha apresentação. achavam que eu estava ‘puxando o saco’ da poesia e das professoras que a ensinavam… Resultado:  Hoje ela é objeto do meu projeto de Mestrado, que está quentinho para a qualificação  (aiaiai).  

A verdade é que a poesia sempre fez parte da minha rotina. e, se sou uma pessoa extremamente maleável, é graças a ela que permite ao fogo arder sem se ver e à ferida doer sem sentir. É nesta linha tênue que sobrevivo. Hoje não, mas poderia ser, por que não? E ela está nos fatos, como diria Oswald de Andrade. Ela está prontinha, já nasceu poesia. Resta apenas aos que têm olhos em terra  de cegos conseguirem admirá-la. Ou como canta o ‘nosso’  Daza: Em terra de cego quem tem um pássaro é rei
Em terra de rei quem tem dois pássaros é cego… Novos Ditados, de Dazaranha . 

 

Você conhece Ana C. ?


Dia destes, enquanto sacrificava meus poucos neurônios na escritura (?) da minha dissertação, eu pensava (!): O maior paradoxo (e isso não é uma hipérbole) que temos na vida é em relação ao conhecimento. Quanto mais lemos ou estudamos, mais ignorantes ficamos. Se deixássemos nosso conhecimento parado, estático (como muitos o fazem), não sentiríamos essa sensação de importência em relação a ser/parecer/saber… A cada nova descobeerta, vem junto aquela avalanche de pensamentos que realmente são capazes de, se não mudar, pelo menos alterar significativamente o nosso modo de pensar. E junto com a avalanche, segue um abismo: o que eu estava fazendo até agora que não tinha pensado sobre isso antes?

Ana Cristina Cesar foi uma doce descoberta recente. Um      verdadeiro mito romântico da poesia contemporânea brasileira. Dona de uma escrita refinada por ser uma leitora compulsiva, a poeta tem publicado e também em seus poemas inéditos e dispersos, uma escrita poética em prosa se utilizando do tom confessional: um quebra-cabeça deixado para a posteridade.

A vida de Ana Cristina foi como a de seus textos: curta. Interrompida aos 33 anos, sua obra é pequena, mas significativa, pois revela o olhar de uma escritora que se colocou na vanguarda de seu tempo e marcou definitivamente a moderna poesia brasileira. Através de seus textos curtos, poemas fragmentados, cartas, páginas de diário, criou um jogo com o qual a poeta brinca e celebra a vida. Ana Cristina Cesar quebrou regras, ousou além da frase, misturou sombra e luz.  Não hesitou em se apropriar da fragmentação do mundo para, em seguida, recriar a seu modo imagens que sensibilizam o leitor.  A sua consciência em misturar prosa e poesia fez com que seus poemas tenham rara qualidade.

Poema do Caderno de desenho, publicado pela Livraria Duas Cidades, em 1980:

Noite Carioca:


Diálogo de surdos, não: amistoso no frio. Atravanco na contramão. Suspiros no contrafluxo. Te apresento a mulher mais discreta do mundo: essa que não tem nenhum segredo. (
A teus pés – 1982)


Esvoaça… Esvoaça… “É como a vela que se apaga, E a fumaça sobe e se atenua.

É o amor fraco que se apaga,

Não adiantam poemas para a lua.
Sofre o homem, o amor acaba E a doce influência esvoaça

Como o fio adelgaçado

De fina e translúcida fumaça Esvoaça, esvoaça…

Atenua o amor, Atenua a fumaça.

Para que tanta dor? E o amor que vai sumindo,

Adelgaça, esvoaça, esvoaça… (Inéditos e Dispersos – (1963))


Lá Fora


há um amor que entra de férias. Há um embaçamento de minhas agulhas nítidas diante dessa boca bisca de mulher. Há um placar visível em altas horas, pela persiana deste hotel, fatal, que diz: fiado, só depois de amanhã e olhe lá onde a minha lâmina cortante, sofrendo de súbita cegueira noturna, pendura a conta e não corta mais, suspendendo seu pêndulo de Nietzsche ou Poe por um nada que pisca e tira folga e sai afiado para a rua como um ato falho deixando as chaves soltas em cima do balcão
. (A teus pés – 1982).

Procurei e não encontrei nenhum vídeo muito espetacular sobre Ana Cristina ou com os seus versos, mas aí vai um.

No Twitter, você pode conferir fragmentos desta poeta, seguindo o perfil

anacristina_c

E por falar em Twitter, resolvi fazer o meu  TOP FIVE, as cinco melhores mini-postagens do dia (sempre do dia anterior), será que você está aqui?

5) millorfernandes

Presidente Lula: “Em que exato momento histórico nossa ignorância passou a ser virtude cívica?” http://www2.uol.com.br/millor/index.htm about 22 hours ago via web

4) tati_bernardi

O sofrimento se conforma um pouco por dia, até virar lembrança. about 22 hours ago via web

3) gracecarioka

a professora falo que eu devia agradece muito a princeza isabel pela vida que tenho ela me confundiu e acho que eu era filha da princeza about 22 hours ago via web

2) FernandoPessoa

Boca que tens um sorriso como se fosse um florir, teus olhos cheios de riso dão-me um orvalho de rir. about 21 hours ago via web

1) monicaiozzi

“Monica, para o que você faz, tá bom!” by Marina Silva – Obrigada @silva_marina!!! about 18 hours ago via web

Sem mais, como diria Ana C., é sempre mais difícil ancorar um navio no espaço… Beijinho.

A saudade é um filme sem cor que meu coração quer ver colorido…




8 de março, dia da mulher. Um dia muito triste. Pense em alguém da sua vida que é extremamente indispensável para você. Agora imagine que você está há dois anos sem vê-lo. E que ano que vem será três. E daqui a dez anos será doze, ou seja: você não o verá mais. É triste. É o caso onde a saudade dói, dói demais. Quando você não tem contato com a morte, você vê a vida de outra forma. Assim que ela sopra perto de você, você acorda para diversas realidades, as quais não tinha muita vontade de ver. A dor faz você crescer, te torna forte, te torna rude, te empedra. Ao encontro disto, te deixa sensível para o hoje, e se, você aprender bem com ela, você passa a dar valor a quem você tem hoje.


Desculpe mulheres, o dia de hoje não me remete, de forma alguma a nós. Há dois anos, todas as mulheres que eu mais amo, choravam muito, e tenho certeza que para elas o dia é de extremo pesar. Pesar por sermos pequenos e sofrermos tanto por algo que é inevitável. Vamos agradecer por mais um dia de vida. Por não estarmos eu termos entes queridos em leitos de hospital, dependendo de sangues, plaquetas e transplantes. Por ainda termos a chance de mudar algo ou em alguma coisa. Vamos orar e elevar o nosso pensamento a Deus. Que assim seja.


Quando a gente é criança ou adolescente, não entendemos certas verdades: parece que nunca vamos crescer, que tudo que temos e somos será para sempre. Aí, é quando sentimos aquela primeira fisgada no joelho, percebemos então que já não podemos mais dar três voltas correndo em volta da quadra sem parar. Ou só acreditamos que o tempo realmente passou e passa quando não sabemos mais identificar um super-ultra-novo aparelho eletrônico de geração mp3,4,5,10, 1000, e sentimos saudades das velhas fichas de orelhão e dos truques para que elas fossem usadas várias vezes. Ou então, quando vemos as fotos antigas e sentimos saudades daquelas roupas que usávamos: por onde andam? Será que ainda nos serviriam? É pessoas, hoje são os jovens que riem de nós, por não acompanharmos sua velocidade. São eles que nos acham caretas, antigos, bregas, desinformados, e o que nos resta é correr contra o tempo para descobrir, mesmo sendo professora de inglês, qual o sentido de rebolation tion. Embora soe estranho, é por isso que sou uma pessoa feliz profissionalmente: trabalho com crianças que estão no auge de suas atividades e elas renovam meu espírito diariamente. É como se, com sua pureza, elas me permitissem rir da vida sem culpa. E rir delas, pobrezinhas, mal sabem que logo elas serão os zoados (se essa já não for uma gíria idosa). E que elas podem fazer coisas a anos-luz de nós, mas que nunca nos alcançarão na velha experiência: o gostinho de sempre já ter lido antes delas o que está acontecendo e de ter a resposta para as suas mais verdadeiras dúvidas, aquelas que o rebolation tion não responde e nem responderá nunca de nuncarás

Florescendo…


Um barulho? Parece que está acontecendo algo? Ah… é ela que está chegando. Assim, com uma aproximação, não necessariamente discreta, sabemos que ela está chegando… Porque faz barulho, esbarra na mesa, fala com vozeirão, dá gargalhada… E te convida para um passeio! Chegou e, sempre com entusiasmo, te convida à alegria e ao prazer, ao chopp e ao debate de idéias. Ao movimento e à aprendizagem. Sempre com o entusiasmo do fogo, impulsionando ao movimento. E se você ficar em sua companhia, aprenderá a buscar a liberdade além de seus olhos. Saberá que há um espaço enorme entre o bairro em que você mora e o mundo, imenso, fértil de terras distantes… Todas estão lá, sim senhor, para serem exploradas… E ela sabe disso. Anseia e vai lá… Longe… Nos espaços físicos (sempre poucos para ela…) e, também, em outros espaços, mentais, intelectuais, sempre buscando algo perdido entre paisagens ou livros, ali ela estará feliz… Tudo pela aventura. Muitas, todas a seu dispor… E parece que são, para ela, bem facilitadas… Por que assim tão simples tudo para ela? Dizem que é porque ela acredita mesmo… Tem uma crença bem estabelecida dentro de si… Ela sabe que existe algo maior, uma força superior e isso pode ser Deus, ou uma energia, não importa exatamente o quê, mas que controla o Universo. Ela sabe que não estamos aqui largados ao deus-dará, daí a sua confiança na vida. E, talvez, ainda desse fogo lhe venha a impaciência com a sua lerdeza… Apesar de ter muita capacidade de compreensão nas coisas da vida, e na dor e na cura, ela pode faltar com delicadeza a seu respeito… Pois é, muito desagradável, mas pode ocorrer, e, perdoe-lhe a fraqueza de visão para coisas assim tão pessoais… É que, em sua necessidade de expansão, ela acaba sem muita percepção das dificuldades dos outros… E muitas vezes, até de suas próprias… E aparecerá, então, como arrogante. Exagerada e esquecida dos detalhes, às vezes importantes, ela trará para o churrasco dos amigos, muito mais carne do que o combinado, e também uma melancia que encontrou pelo caminho e estava tão bonita… Como deixar de se encantar? Tanto entusiasmo… Tanto otimismo. Talvez seja esta sua chave de sucesso. E esse pode ser também um dos seus principais defeitos… Afinal, se tiver que errar que seja por mais, nunca por menos, considerando sempre esta a melhor das hipóteses! Ela parece ter um comportamento paradoxal? Sim… e pode apresentar estas disparidades entre habilidades e fragilidades, talentos e vícios… Otimismo e egoísmo, companheirismo e visão curta, exagero e generosidade, desejo e ânsia de conhecimento… Tudo assim tão paradoxal… ah… Toda tão… divinamente humana… Ela é uma mulher de sorte!

Querendo voltar…


Nossa. Mais de oito meses sem postar. Escrever para mim sempre foi um desabafo. Não só para mim, acredito. Sempre escrevi quando estava sentindo um vazio em mim. Não sei consolar as pessoas. Não sei se gosto de ser consolada, então escrevo. Nestes últimos oito meses, muita coisa mudou. A rotina é a mesma, mas troquei alguns vícios, abandonei outros e adquiri vários novos. Não mudei de emprego, mas troquei de função. Mudei de morada, mas na estante os livros seguem a mesma ordem. Dei mais uma chance para a minha felicidade e o novo amor me invadiu. Continuo com culpas, mas elas são por outros motivos. Sinto saudades. Muitas saudades. E dor, por não ter a capacidade de fazer com que as pessoas que mais amo sintam essa felicidade que agora caminha ao meu lado, mas cada um escolhe o seu próprio caminho, e deve ser responsável por si. Eu sempre disse isso.

Enfim, foram oito meses de abandono ao blog, mas de reencontro com a vida. E isso aqui é só uma louca vontade de voltar… Vou voltar! Beijitosss e, seguidores, retornem!!!

(Apenas dois parênteses)



Vejo-me em uma crise que vai bem mais além da crise dos vinte-e-poucos-anos.
É uma crise de identidade. Uma crise de existência. Uma crise de insistência!

Mas, tudo evolui, inclusive eu:
-Aceitar que o Futuro do Pretérito também pode ser conjugado.
-Diminuir o ritmo, aumentar a intensidade.
-Se livrar do excesso de carga e esquecer as coisas certas.
-Não existe prêmio para quem doa amor.
-Ser feliz é uma questão de perspectiva…

(De repente, você se depara no meio do mar, literalmente. Com a melhor comida de sua vida, percebendo a leveza das gaivotas brincando no ar, desfrutando de uma companhia maravilhosa, e aí? Aí percebe que se tem muito mais a viver do que você supunha. Que se nasce todos os dias, que o hoje é tudo o que você tem e viveu nessa vida. E que, como diria Vinícius, ainda há tempo para ‘amar, viver, sofrer’…)

Grande Pátria Desimportante, Eu Não Vou Te Trair!


Ser brasileiro é mais que uma benção. É um dom. Chega a ser um carma.
Estou tendo a oportunidade de refletir sobre isso e desabafo: é incrível como nos deixamos contagiar pelo jeitinho brasileiro.
O Brasil só não é democrático em suas políticas públicas, infelizmente. Aqui tem lugar para todas as tribos, guetos, parcerias e combinados. Os braços do Brasil são os maiores do mundo. Temos belezas naturais, como a mulher-melancia e os laranjas que atravessam clandestinamente a Ponte da Amizade todos os dias. Temos o Cinema Novo, a Pornochanchada, o samba de raíz e o de gafieira. Temos ainda o bom ritmo do funk com suas desprezíveis letras, e as belíssimas composições da MPB em pobres remixagens. O Brasil é um país onde o ilícito se tornou natural e tolerado e o sorriso das nossas crianças estão forçados e reprimidos. O luxo e o lixo se confundem e se resignificam o tempo todo.
É um país de contrastes: da seca do Nordeste e das cheias no sul. Aboliu a escravatura em 1888 e hoje continua escravizando através da educação, que deveria ser libertadora. Tem praia, tem mato. Tem terra, tem asfalto. Tem sem-terra. Tem circo, tem palhaço. Tem picadeiro. Tem povo. Tem espetáculo!
Mas ainda é o jeitinho brasileiro que mais me incomoda aqui. É um jeitinho de ser solidário em enchentes e que depois desrespeita o idoso na fila dobanco, no ônibus, no restaurante… Precisa de lei. De decreto para ser educado. É o jeitinho que samba junto nos quatro dias de carnaval e que depois não devolve um troco que veio errado, e quando alguém devolve o troco errado, a expressão de espanto do caixa com tamanha ‘HONESTIDADE’ é inevitável. É o grito unido e uníssono nas arquibancadas e torcidas organizadas e a pancadaria desordenada na guerra dos estádios.
É o país da coca, da cola, do açaí, do avião, da Skol, das favelas e das coberturas. É o Brasil coberto de favelas e descoberto de esperança. No país do Tente Outra Vez não existe guerra mas existe fome. Não existe terremoto mas a terra treme a cada final de campeonato. Não existem vulcões mas o coração do brasileiro desperta sempre em erupção. Não tem Pessoa, mas tem Bandeira. Tem várias bandeiras: brancas, negras, vermelhas e coloridas. Tem Ordem mas não tem Progresso. Tem esquecimento, tem perdão. E como brasileira legítima que sou, me esqueço do Brasil que não conheço, tenho vergonha e não desisto nunca. No país onde o atraso é um charme, não haveria surpresa alguma se fosse um gringo que tivesse me alertado para isso…

(…)

Mas, se ergues da justiça a clava forte,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Nem teme, quem te adora, a própria morte.
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada,
Brasil!

Leve me leve…



Tempos sem postar. Escrevo para aliviar as dores da alma. E não ter escrito é um bom sinal. Devagar as coisas vão se ajeitando, se encaminhando, se resgatando. Estar feliz é muito bom. Estar feliz é estar tranquila, serena, leve. É estar completa.

Estar completa é estar suficiente. Fechada para problemas, grilos, incomodações. Mais que suficiente, estou auto-suficiente. Não no sentido de me auto-completar, mas de saber exatamente o que me completa.

Leve, leve, muito leve,
Um vento muito leve passa,

E vai-se, sempre muito leve.
E eu não sei o que penso
Nem procuro sabê-lo.

(Alberto Caeiro)